03 de jun. de 2016
Por: Heloísa Capelas
Quando optamos pelo “não” perdão, a única pessoa que paga efetivamente pelo o que aconteceu somos nós mesmos
Outro dia em conversava com uma aluna que se queixava: “o Natal e o Ano Novo já estão aí e eu não suporto essas festas! Sempre preciso ‘fazer sala’ para a minha tia, de quem nem sequer gosto”, notei que o desprezo em sua fala era tão palpável que aproveitei a deixa para perguntar: afinal, o ela fez ou faz que lhe incomoda tanto a ponto de “estragar” a sua festa?
Já conhecia a história dessa aluna, portanto, eu sabia aonde esse papo daria; só queria mesmo que ela se desse conta do que tanta mágoa e ressentimento estavam lhe fazendo. Inconscientemente, ela continuava apegada a lembranças e acontecimentos de mais de 35 anos atrás e buscava ‘punir’ a tia pela dor que havia lhe causado.
Isso me fez pensar na imensa quantidade de pessoas que me contam histórias muito semelhantes. Elas foram vítimas de alguém ou de “alguéns”; de um episódio em específico ou de diversas situações; e hoje, não importa quanto tempo tenha se passado, não conseguem se desvencilhar do rancor. Rememoram o que aconteceu como se tivesse sido ontem, hoje, agora; e, sempre que repetem esse processo, sentem toda a tristeza e a dor de novo. Esse, aliás, é o verdadeiro significado do verbo RESSENTIR, uma dor que só terá fim quando houver perdão.
Quando alguém nos magoa, é natural que a nossa reação seja sentir raiva. Afinal, fizemos o que podíamos, demos o nosso melhor e, mesmo assim, fomos traídos, ignorados, injustiçados, não vistos, não reconhecidos. A grande questão é: o que fazer com esse sentimento tão devastador?
Sem querer, muita gente segue pelo caminho da vingança, porque acredita que a superação só será possível quando o outro pagar pelo o que fez. Ele foi o culpado, portanto, precisamos puni-lo. Perdoar jamais seria uma opção! Para essas pessoas, aliás, está muito claro que: “se eu oferecer meu perdão, estarei dando mais uma chance ao outro, que poderá me magoar novamente”.
É, mas não funciona bem assim. Primeiro porque perdoar não é esquecer; é retirar a dor de dentro de você. Segundo porque perdoar não é sinônimo de “aceitar de volta”; é possível oferecer perdão até mesmo às pessoas com quem não temos e não pretendemos ter qualquer convívio. E terceiro porque, quando optamos pelo não perdão, a única pessoa que paga efetivamente pelo o que aconteceu somos nós mesmos.
A ciência já comprovou o quanto a mágoa e o rancor são prejudiciais às nossas vidas – eles têm sido muito associados à ansiedade, depressão, obesidade, hipertensão e até ao câncer. Como bem diz aquela antiga máxima, “guardar rancor é como tomar um copo de veneno esperando que o outro morra”.
Você deve, então, estar se perguntando: “mas como é que eu posso perdoar alguém se esse alguém não me pediu perdão?”. Bem, seria mesmo muito mais fácil acabar com as nossas mágoas se nossos algozes sempre batessem à nossa porta para reconhecer o mal que causaram. Porém, isso quase nunca acontece.
Então, eu vou te contar uma coisa: o que essa pessoa ou situação causou na sua vida já ficou para trás. Talvez, ela não tenha lhe magoado intencionalmente; muito provavelmente, não foi bem assim que aconteceu. E isso realmente não importa mais, porque já passou. Você pode escolher seguir em frente sem que toda essa lembrança continue a lhe ferir.
Comece por você, olhe-se, assuma a responsabilidade e o protagonismo de tudo o que já foi e de tudo o que está por vir. Aliás, quantas vezes será que você mesmo já magoou alguém sem querer? E quantas dessas vezes foi perdoado? Se você acredita que agiu na melhor das intenções e, por isso, merece perdão, por que não aplicar a mesma regra àqueles que te magoaram?
Sempre digo que perdoar é uma questão de inteligência, uma escolha que só você pode fazer por e para você. Esse é o caminho que vai te libertar do passado para construir um presente e um futuro plenos de amor e compaixão.
Espero que você aproveite a reflexão e possa começar a trazer para dentro de si uma outra perspectiva. Liberte-se e siga em frente!